Pessoas chatas


Vou começar este texto sem saber ao certo como ela vai terminar, sem saber ao certo se ele vai terminar ou se vou, como em muitas outras ocasiões, apagar e não publicar. Mas se você está lendo estas linhas é porque eu não apaguei, apesar da vontade ser grande.

Mas sem enrolação, este texto nasceu pela observação de uma fala, uma bate papo que ouvi no ônibus no caminho para o trabalho. Uma pessoa de voz elevada com grande desenvoltura como se não estivesse num ambiente compartilhado e sim em seu carro particular, gesticulava muito enquanto falava quase que aos berros, como que querendo dizer que todos os presentes deveriam prestar atenção naquilo que ela relatava, para ela deveria ser a coisa mais importante do dia, apesar do dia mal ter começado.

Provavelmente você já se deparou com pessoas assim, que não conversam e sim impõe suas histórias e opiniões para que todos que estão próximos participam, mesmo que de forma indireta e involuntária, do assunto que ela acredita ser de maior importância, mas o fato é que, geralmente, o assunto só têm importância mesmo, só é realmente relevante para quem está relatando e não para aquele que está ouvindo de forma impositiva, os que ouvem de forma forçada, sem opção de não participar do monólogo já que, como disse, essa pessoa não fala, ela "berra"!

Mas, afinal, do que era mesmo que ela falava? Uma mistura de indignação, busca de direitos, aparentemente trabalhistas, com uma mistura de palavras preconceituosas e uma autoafirmação de que, como vítima, merecia a justiça reparadora. Entre uma frase que demonstrava sua indignação e outra que descortinava um preconceito gratuito ela olhava aos demais passageiros do ônibus como quem procura com o olhar um gesto de aprovação, aquele do tipo "você têm toda a razão" que se traduz com um leve balançar de cabeça em sentido de afirmação.

O grande constrangimento dela, se é que uma pessoa dessas sente algum tipo de constrangimento (sinceramente eu acho que não), foi perceber que ninguém do ônibus fazia coro com sua narrativa, não havia sensibilização com os argumentos, tão pouco com a forma agressiva e preconceituosa como ela tratava o caso. Mas ela insistia com a ladainha e parecia que aquela viagem seria longa demais, até que ela desceu na próxima parada do ônibus e felizmente a viagem que parecia ser uma provação de paciência voltou às vias da normalidade barulho chato, só do motor do ônibus.

Que bom que hoje foi assim, mas a tensão continua, pois amanhã o ônibus vai passar novamente e outra vez esse passageiro (ou será passageira?) ira entrar nesse espaço coletivo e fazer dele seu espaço privado, impondo suas histórias aos que dela não pediram para participar.

Este texto poderia seguir outro caminho? Sim poderia. É possível fazer a mesma abordagem sob o ponto de vista do outro? Sim é possível e, em alguns casos, necessário. Mas aquela pessoa é chata demais para que eu possa escrever um texto menos parcial. Hoje, quero distância de pessoas chatas.

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